NHEENGATU
2023
Instalação sonora
Em colaboração com a Rede Wayuri de Comunicação Indígena
Site: https://redewayuri.org.br/

Nheengatu é uma obra instalação que consiste em um poste de madeira (ou tronco de árvore), que se sustenta do solo ao teto, pintado por motivos geométricos de origem indígena do Alto Rio Negro, a certa altura serão acoplados dois autos falantes em direções contrárias, sendo conectadas via cabo a um dispositivo de reprodução de áudio, que transmita arquivos sonoros previamente gravadas. As gravações serão em grande parte, material produzido por rádios comunitárias de comunidades indígenas através da Rede Wayuri de Comunicação Indígena e pelo próprio artista em idiomas baniwa, tukano, yanomami, hupda e nheengatu.
A obra deverá ficar ativa diariamente com os áudios em loop, até o encerramento da exposição.
Obra realizada por ocasição da 1 Bienal das Amazônias, Belém, PA.

Rascunhos da proposta
Atividades realizadas pela Rede Wayuri de Comunicação Indígena
Alguns dos áudios produzidos nos idiomas português, baniwa, tukano, yanomami, hupda e nheengatu.
Em comunidades indígenas ou periféricas amazônidas, onde a comunicação é um bem de luxo, seja por falta de energia elétrica ou conexões de internet ou sinal de tv, criou-se meios próprios de tornar a população informada com notícias importantes nacionalmente ou localmente. No Rio Negro, de onde eu venho, há todo um repertório das chamadas rádio-poste ou rádio-boca-de-ferro, que são estruturas que servem como quase que único meio de comunicação local. A rádio-poste nada mais é que auto falantes instalados em postes ou árvores que ligadas a uma mesa de áudio, o locutor (ou uma gravação) por meio de um microfone informa a comunidade. A rádio-poste, como rádios convencionais, tem uma programação de notícias, recados, entrevistas e músicas.
No Rio Negro, atualmente quem leva em frente este método, é a Rede de Jovens Comunicadores Indígenas WAYURI, mas a rádio-poste está longe de ser exclusividade do Rio Negro, sendo utilizada nas periferias de grandes cidades amazônicas, bem como em cidades interioranas do Nordeste, Centro-Oeste e comunidades periféricas de São Paulo e Rio de Janeiro. Onde não há reconhecimento de representatividade local por meio dos meios de comunicação de massa, há de se criar seus próprios meios em que se sinta pertencidos, reconhecidos.
Nas sociedades indígenas amazônidas, há dezenas de instrumentos de comunicação extrafísico onde postes são utilizados como conexão do mundo dos humanos com os extrahumanos, são casos de povos caripunas, tukanos e baniwas. Com a ocupação cada vez mais intensa da Igreja Católica em territórios indígenas, e a inserção (por muitas vezes forçada e violenta) de instrumentos cristãos nas comunidades e seus cotidianos rituais, nesse momento o sincretismo torna os postes tradicionais com os mastros de festas de santo. Ainda assim, o sentido de comunicação extrafísico ainda se mantém, ainda que hoje a festa dos postes, seja o método de falar com Santo Antonio e não mais apenas com Nhanpirikuli ou Karuãnas. Considera-se por estas comunidades que as ondas de sonoras, formam grandes rios de comunicação navegáveis entre gente e não-gente.
Nheengatu
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